segunda-feira, 23 de novembro de 2015

E agora .........21!

Nada será fácil a partir do momento em que você se depara com a deficiência intelectual acompanhada da física.
Começo assim esse texto, o que pode parecer de certa forma pesado, porque na verdade é pesado. Refletir sobre esse sentido com doçura ou sentimento de ter sido abençoado é muito mais poético do que real.
Já relatei várias vezes por outras ocasiões, o problema que minha filha Vitória teve ao nascer.
De uma infecção combatida desde as primeiras horas de vida ainda sem saber exatamente o que ocorria, ficaram algumas sequelas para serem enfrentadas.
Déficit cognitivo e uma hemiplegia no lado esquerdo se incorporaram no dia a dia da Vitória.
De lá pra cá foi muito investimento.
Estimulação precoce, fonoaudióloga, fisioterapeuta, psicólogos, pilates, natação, psicopedagogas, enfim uma tarefa que não termina quando se corre contra o tempo em um cérebro que fica sempre em transformação até que os neurônios se acomodem em algum lugar e uma bateria de remédios o ajude a mantê-lo calmo e organizado.
Tarefa complicada.
Uma matemática que lida não só com a interpretação da própria Vitória, porém com a nossa enquanto Pais.
A gente sabe que ela sofre, porque tem consciência de sua deficiência, mas não pode ir além daquilo que a vida lhe preparou.
E tudo vai correndo conforme o tempo manda e a gente vai até esquecendo que lidar com a deficiência é algo complicado. Só que nesse processo de crescer e ir enfrentando cada barreira de uma vez, ainda temos uma filha com aquele ar de criança que não cresce na velocidade do irmão que aos 13 anos parece ser um homem de 18.
Muito provavelmente pela relação que tem com o problema que visualiza todos os dias.
Só que ai chegamos aos 21 anos.
E o que para a maioria dos seres humanos vem como um grito de liberdade de maior idade, para o deficiente cognitivo, representa estar jogado ao mundo sem a velha escola que lhe deu abrigo e vida social.
E agora para onde se vai.
A autonomia é sem dúvida o que permite ao ser humano dar o seu grito de independência e trilhar os próprios caminhos. Nessa caminhada, existe uma importante
etapa chamada trabalho.
Trabalhar, construir um vínculo com pessoas envolvidas em um processo produtivo que nos ajuda a dar sentido aos nossos dias. Melhorar a auto-estima, se sentir gente como todo mundo gosta de se sentir.
E é ai que o término do período escolar nos coloca novamente o ponto de interrogação.
É certo que alguns estabelecimentos de ensino, começam aos poucos no final dos ciclos a preparar os alunos para determinadas funções que os tornem mais responsáveis e os preparem para o mercado de trabalho. 
Porém em um ensino tão desprovido do atendimento necessário, a tarefa de estar em sala de aula já não é fácil, quanto mais à escola ter toda a estrutura para preparar os alunos para um tipo de mão de obra a ser aproveitada posteriormente de forma produtiva.

E agora que chegamos aos 21?

Já não se tem mais a escola para pelo menos em um período do dia ocupar uma cabeça que tanto precisa de atendimento direcionado para compensar o que o tempo não perdoa.
Temos as atividades diárias e as nossas vidas para tocar, não conseguindo dedicar um tempo exclusivo. Ficar 24 horas tomando conta de quem não tem condições de se governar.
Não é fácil. E na verdade nunca foi e nunca será. 
É uma tarefa que surge nos primeiros momentos quando se descobre que aquela vida irá merecer atenção especial até os últimos dias de nossa existência.
E ainda mais isso. 
E no fim das nossas vidas quem dará suporte?
Bom, mas esse é outro problema para se enfrentar, voltemos ao assunto “E agora 21”.
Dentro deste panorama surgem os cursos preparatórios. 
Não que deles saiam mestres na profissão, mas que essa especialização os ajude a se sentirem seres incluídos em um sistema produtivo. 
Que sua dedicação e mão de obra sejam consumidas de alguma forma como acontece com qualquer pessoa na sociedade.
Não são muitos os espaços que oferecem esses cursos até porque não é uma tarefa de tão somente ensinar, mas sim de adaptar determinada função a cada deficiente tanto físico como intelectual.
Complicado sem dúvida. 
Problemas de estrutura, mão de obra especializada, dedicação e ainda mais, a afinidade do profissional com o aprendiz deficiente.
Pensando nessa complicada tarefa, é preciso ser mais do que pai e mãe. 
É preciso mais uma vez tentar superar não só as da Vitória, mas as nossas deficiências.
O resultado pra cada um é diferente porque independente da Deficiência, temos as experiências pessoas, o apoio da família, as condições financeiras e sem dúvida a sorte ou o azar de estarmos bem assistidos por profissionais que não nos vejam somente como pais de um deficiente, mas uma família que precisa como um todo de ajuda!


Que venha os 21 e tudo mais que tenhamos de enfrentar.

6 comentários:

  1. Olá Cristhian!! Os planos de Deus são secretos, por isto não sabemos o por que de tantas coisas, mais uma coisa eu te digo, ele nos faz forte para suportar tudo o que precisa ser superado...Força e saúde para vcs.. Um abraço.Fabi

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  2. Os melhores comandantes são os que corrigem seus próprios passos, o tempo todo em vigília, pois é assim que guiam seus passageiros a um bom tempo, seguros e salvos! Parabéns à ti e tua família, que rica sorte vocês tem com a Vitória, e que rica sorte ela também tem. Fraterno abraço!!

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    1. Obrigado pelas palavras Carlos, um forte abraço para você também.

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  3. Também considero uma sorte muito grande da Vivi ter vindo pra ti e pra Lúcia. E desde o primeiro momento, nunca faltou dedicação, carinho e amor. Digo e repito: Tenho muito orgulho de vocês! Grande beijo 💙

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