sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O voo-cego do Rádio Esportivo

Escreve Milton Ferretti Jung este que esta sentado a mesa do lado esquerdo com os fones.

Outro dia, o Mílton, em sua  "Avalanche Tricolor", a propósito de uma outra estreia – a do Grêmio no Campeonato Gaúcho- lembrou, com saudade, o início de sua carreira na Rádio Guaíba, no qual, repórter esportivo que era, trabalhava nos jogos dessa competição, muitos deles narrados por mim. A saudade se explica: os jogos, em geral, especialmente aqueles disputados no interior do estado,transformavam-se em batalhas campais ou quase nisso. Os jogadores, mesmo os da dupla Gre-Nal, mais bem remunerados, tinham amor à camiseta, coisa rara hoje em dia, pois o profissionalismo transformou muitos em verdadeiros mercenários. O que o Mílton não recordou, porque não havia nascido na época, foi das dificuldades que se enfrentava para transmitir as partidas do que agora resolveram apelidar de Gauchão, superlativo injustificável para o futebol que se vê.

Em algumas cidades interioranas – Bagé era uma delas – não havia linha telefônica, necessária para que se falasse dos estádios. Viajava-se, na véspera dos jogos, por estradas de chão batido, muitas vezes debaixo de chuva. Não havia motorista profissional. Dirigiamos nós mesmos inseguras kombis. Dentro delas, estava um enorme transmissor “single-side-band”, o substituto da linha telefônica. Para que funcionasse era preciso comprar dois postes de bom tamanho, estender entre eles um cabo, conectado a outro que, por sua vez, ligava-se ao transmissor. Na sede da rádio, um técnico passava trabalho para receber a transmissão. Esse, controlava o áudio girando um botão. Para a equipe que estava no estádio ouvisse o retorno do som que era enviado, fazia-se necessário sintonizar a onda-curta da emissora.
Em transmissões de futebol fora do estado precisava-se contratar a Radional, antecessora da Embratel e nem sempre confiável. Essa, certa vez – e com isso vou encerrar este papo, não se preocupem – nos deixou na mão num jogo entre Atlético Mineiro e Grêmio, em Belo Horizonte, no Estádio Independência. Sem conseguir captar a onda-curta da Guaíba, abri a transmissão depois de avisar para o estúdio que iriamos – o Ruy Ostermann e eu – entrar no ar em “voo-cego”. E entramos. Narrei 85 minutos. Foi então que a onda-curta deu o ar da graça. No estúdio, o locutor do noticiário apresentava o Jornal da Noite.
Seja lá como for (ou como era) que, tal qual o Mílton bem mais tarde, nós dois tenhamos bons motivos para sentir saudade dos velhos tempos do futebol e do rádio esportivo.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista, gremista e meu pai. Escreve todas as quintas-feiras no blog do Milton Jung e terá sua reprodução qui neste blog.

6 comentários:

  1. Ao ler o texto me deu uma baita saudade de minha infância na rua Morretes, zona norte da capital. Quando o Grêmio ganhou um campeonato do Gauchão na década de 70 - sei lá que ano - minha mãe, gremista e zequinha, improvisou umas bandeiras gremistas com toalhas de mesa e de banho azuis para que a agitada prole vibrasse e desfraldasse seu amor cândido pelo Grêmio. Claro, tudo embalado pela narração da grandiosa equipe esportiva da Guaíba. Nem fazíamos idéia do que era transmitir uma partida!! Hoje, compramos a bandeira oficial do clube... e vemos nosso time no ppv, sempre com o rádio ligado na Guaíba, em que pese não termos mais a narração de nosso Milton Jung.
    Martini

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  2. É O TEMPO PASSA, EU NA MINHA INFANCIA, JUNTO COM MEU SAUDOSO PAI OUVIAMOS A GRANDE RADIO GUAIBA,MEU PAI QUE SE ORGULHAVA DE DIZER QUE ERA GUAIBEIRO...O SEU OSWALDO VIEIRA DE AGUIAR ORGULHAVA-SE DE SER COLORADO, COLORADO QUE NAS HORAS VAGAS TRABALHAVA NOS EUCALIPTOS, ERA UM HOMEM SIMPLES COM SUAS IDEIAS E CONVICÇÕES, EU UM MENINO NA EPOCA QUE SIMPLESMENTE SEGUI OS BELOS PASSOS DO PAI NA QUAL NÃO ME ARREPENDO. NOITES DE GAUCHÃO QUARTAS-FEIRAS A NOITE EU E MEU PAI ESCUTANDO NO RADIO, A TRANSMISSÃO DA GUAIBA, ERA INVERNO E NOS ALI...É TEMPOS QUE A VIDA ERA MUITO DIFICIL. MEU PAI DIZIA ... O MILTON É GREMISTA, TUDO BEM NOS SOMOS OS CAMPEÕES, ELE FAZ O QUE O CORAÇÃO MANDA. É UM GRANDE NARRADOR.HOJE TENHO O PRAZER DE SER AMIGO DO FILHO DESTE GRANDE NARRADOR. SEMPRE QUE FALO COM MEU AMIGO CRISTIAN PERGUNTO -COMO ESTA O HOMEM GOL.GOL GOL GOL GOL .A CONVIVÊNCIA ENTRE COLORADOS E GREMISTAS É ALGO QUE NÓS GAUCHOS TEMOS QUE ENSINAR. MEUS AMIGOS SÃO COLORADOS E GREMISTAS, GREMISTAS E COLORADOS E NÃO EXISTE NADA QUE NOS SEPARE.
    UM FORTE E CALOROSO ABRAÇO.

    RICARDO SANTOS DE AGUIAR

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  3. Muito obrigado Martine pelo teu relato. É sempre importante os registros do passado para valorizar o presente. Tenho certeza que teu amigo vai gostar.
    Abraço
    Christian

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  4. Grande Ricardo e suas histórias, sempre quando falo com o meu pai lembro que tu perguntas como vai o homem do Gol Gol Gol. Obrigado pelas tuas palavras.
    Forte Abraço

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  5. Ouvir a Guaíba, fosse no futebol, no Correspondente Renner, no Agora, no Cinema na Guaíba, e tantos outros que nem sei mais, durante a minha infância, teve o gosto de uma trilha sonora. Era o tempo do aprender. Ir ao colégio, mas também de ter as primeiras noções de convívio ao ver chegarem as manas mais novas, e vê-las crescer comigo. Convívio exige valores! que se aprendia nos nervosismos da mãe esgotada pelas dificuldades materiais e pelas artes dos quatro "anjinhos". A Guaíba, o "padrão Guaíba" abraçava tudo aquilo. Da manhã à noite. Não existia FM, e na minha casa imperava, magnífica, a postura e a elegância (nunca soube de um membro da equipe de esportes que declinasse a paixão clubística. Descobri agora mesmo que o Milton Jung é gremista...) da emissora ajudavam a estabelecer os padrões que deveriam ser seguidos para a vida toda, Era como se o meu pai dissesse: "é assim que a gente deve ser". Aprendi e vivo ainda hoje, ao som da memória, o trabalho daqueles homens e mulheres. Nasci em 1966 (lembro de ouvir a notícia da separação dos Beattles) e desde sempre, ouvir a Guaíba. Ser guaibeiro era dar provas de ser Gaúcho! E ser Gaúcho, para mim era simples: era cultivar valores, bons hábitos. A Guaíba foi a trilha sonora daquele processo. Quando saí do Rio Grande, só havia as ondas curtas, e ouvir a vinheta da Jornada Esportiva passou a ser o meu elo com o mundo que passara,era a minha dor de saudade mais dolorosa. Por isso sempre é uma alegria emocionante ler sobre o "Senhor" MIlton Jung, e a Guaíba daqueles tempos, desde Pedro Carneiro Pereira. Por isso não resisti à vontade de enviar-lhe um abraço, como sempre faço, meio constrangido quando encontro o Cristian nos julhos da minha vida atual. Pelo Cristian eu nunca mandei um OBRIGADO ao Herr Jung, mas faço-o agora: obrigado Sr. Jung, por musicar com a sua voz, largas faixas dos rastros vividos pela minha alma de andarengo; e digo eu para o senhor: GOL, GOL, GOL!
    Luís Martini Thiesen

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  6. Milton Ferretti Jungquinta-feira, 27 janeiro, 2011

    Como é maravilhoso ler as manifestações carinhosas dos "guaibeiros",especialmente quando se referem as jornadas esportivas, ao Correspondente e a outros programas que conquistou tantos e tão fiéis ouvintes. Só lhes posso dizer,para não me emocionar demais,muito obrigado,amigos.

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